VEM PELO JARDIM
Os jardins, pátios e quintais, apresentados tantas vezes como partes anexas das casas, são na verdade espaços que acumulam, na sua inacabada e perfeita desarmonia, recursos que traçam cronologias e memórias de quem as habita. Se alguns refletem a ordem imposta pelo rigor logístico dos seus moradores, outros beneficiam da organização caótica da forma como as coisas se colocam ao serviço das rotinas humanas. No exterior, sobra o que cresce ou o que não se deita fora. São as não-coisas que se guardam porque existe um canto para tudo, menos para o compromisso do desapego. Renato Cruz Santos é um artista multidisciplinar que explora as temáticas da memória, do imaginário ficcionado e das narrativas sensoriais que separam um lugar comum de um lugar-comum. Caxinas, a indisciplinada vila piscatória onde nasceu, acabou por nortear a forma como percepciona o mundo. As viagens de Renato são outras e os seus monumentos são baldes, plantas, vestígios de intimidade: portas escancaradas e a roupa desordenada ainda a secar.
No Festival Rádio Faneca, desafiamos os habitantes dos becos do Centro Histórico de Ílhavo a deixar a porta aberta e a permitirem que se eternize, sobretudo através da fotografia e da conversa, a beleza destes espaços lapidados pelo tempo e pelos gestos.
Não desfazendo das casas, nesta edição, vamos pelo jardim.
O projeto Vem pelo Jardim envolveu 11 casas do Centro Histórico de Ílhavo em que os participantes tiveram a generosidade de nos deixar visitar, contemplar e fotografar os seus jardins, pátios ou quintais, bem como de escutar as suas histórias, conhecer os seus animais de estimação, e que nos concederam, sobretudo, o privilégio do seu tempo e da invasão da sua rotina.
O resultado deste desafio, que durou cerca de dois meses, e se dividiu em vários períodos de residência artística em Ílhavo, foi um livro e um percurso que culminava numa pequena exposição de algumas das fotografias destas casas. O percurso, que aconteceu durante o festival, passou pelas casas participantes, que foram acolhendo o público com portas e braços abertos, bolos quentes em cima da mesa, e novas histórias sobre os jardins que já conhecíamos. Esta viagem, que foi sempre diferente, terminava na garagem da drogaria Vizinhos, onde estavam expostas, impressas em têxtil, 11 fotografias que serviam de complemento ao livro e ao próprio percurso.
Nesse pequeno livro, cheio de plantas, gatos e nomes impossíveis de esquecer, pensado e desenhado por Renato Cruz Santos, estão algumas das muitas fotografias que foi pacientemente tirando, e ainda um poema, da autoria de Maria Inês Santos, a partir da escuta das histórias e outros detalhes contados pelos cuidadores dos jardins e pátios que se visitaram.
VEM PELO JARDIM
Os jardins, pátios e quintais, apresentados tantas vezes como partes anexas das casas, são na verdade espaços que acumulam, na sua inacabada e perfeita desarmonia, recursos que traçam cronologias e memórias de quem as habita. Se alguns refletem a ordem imposta pelo rigor logístico dos seus moradores, outros beneficiam da organização caótica da forma como as coisas se colocam ao serviço das rotinas humanas. No exterior, sobra o que cresce ou o que não se deita fora. São as não-coisas que se guardam porque existe um canto para tudo, menos para o compromisso do desapego. Renato Cruz Santos é um artista multidisciplinar que explora as temáticas da memória, do imaginário ficcionado e das narrativas sensoriais que separam um lugar comum de um lugar-comum. Caxinas, a indisciplinada vila piscatória onde nasceu, acabou por nortear a forma como percepciona o mundo. As viagens de Renato são outras e os seus monumentos são baldes, plantas, vestígios de intimidade: portas escancaradas e a roupa desordenada ainda a secar.
No Festival Rádio Faneca, desafiamos os habitantes dos becos do Centro Histórico de Ílhavo a deixar a porta aberta e a permitirem que se eternize, sobretudo através da fotografia e da conversa, a beleza destes espaços lapidados pelo tempo e pelos gestos. Não desfazendo das casas, nesta edição, vamos pelo jardim.
O projeto Vem pelo Jardim envolveu 11 casas do Centro Histórico de Ílhavo em que os participantes tiveram a generosidade de nos deixar visitar, contemplar e fotografar os seus jardins, pátios ou quintais, bem como de escutar as suas histórias, conhecer os seus animais de estimação, e que nos concederam, sobretudo, o privilégio do seu tempo e da invasão da sua rotina.
O resultado deste desafio, que durou cerca de dois meses, e se dividiu em vários períodos de residência artística em Ílhavo, foi um livro e um percurso que culminava numa pequena exposição de algumas das fotografias destas casas. O percurso, que aconteceu durante o festival, passou pelas casas participantes, que foram acolhendo o público com portas e braços abertos, bolos quentes em cima da mesa, e novas histórias sobre os jardins que já conhecíamos. Esta viagem, que foi sempre diferente, terminava na garagem da drogaria Vizinhos, onde estavam expostas, impressas em têxtil, 11 fotografias que serviam de complemento ao livro e ao próprio percurso.
Nesse pequeno livro, cheio de plantas, gatos e nomes impossíveis de esquecer, pensado e desenhado por Renato Cruz Santos, estão algumas das muitas fotografias que foi pacientemente tirando, e ainda um poema, da autoria de Maria Inês Santos, a partir da escuta das histórias e outros detalhes contados pelos cuidadores dos jardins e pátios que se visitaram.